Beau Fleuve. Literatura da Viagem
Ano 2018
ISBN 978-989-703-195-3
Idioma Português
Formato brochura | 56 páginas | 24 x 24 cm
há poemas que obrigam a lê-los depressa. Não para chegar ao fim. Mas porque o ritmo das palavras o impõe. Depois volto atrás, sem perceber porquê, e releio e tenho outra vez pressa nas palavras. E ainda não sei porquê.
um poema acalenta-me na mansidão de um xaile grosso e vermelho. Talvez um miar sumido de uma preguiça felina. Tanto aconchego. Tão bom. E na fotografia – janela sobre um voo – o frio. Só o frio.
o maravilhoso de uma imensa loja antiquária a céu aberto. Desmesurada. Umas formas curvas no entrelaço suavizado pelos olhos. Do outro lado, umas palavras de alquimias, forças mágicas, predestinação. E sem que se perceba, percebe-se a viuvez da praia, gritos como gaivotas em prantos e lamentos. E a morte. E o mar.
JF
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Teremos sempre a oficina de poesia
Para além do tempo, de escolhas outras, mudanças e errâncias
Terei e serei sempre oficina de poesia
Para mim,
Os poemas de Beau Fleuve são, antes de mais, oficina de poesia e, depois, são literatura da viagem da Graça
E a viagem faz-se em movimento, sem Graça…
“a crueldade o acaso o caminho”
Antes de Buffalo
Buuuuuuuuuu
“do medo para guardar” (…)
“em carta e em cansaço
Que espanta ainda”
E o silêncio, sempre o silêncio
“a regressão ao silêncio das pedras e da água”
A viagem vai-se fazendo inauguração de um novo mundo pela linguagem
“(…)os franceses (…) deram nome ao território: “a região do ‘beau fleuve’”
e faz-se de improváveis encontros
“de África em rede de linho branco e sol”
de sobreposição de imagens e perspectivas
“um pôr-de-sol em Capen Hall em fundo de sala vermelha”
E, nestes poemas, a viagem que interessa
O descentramento, o abandono do pronome “eu” e “o caos na bagagem”
porque
O olhar da viajante (agonista ) que “em deambulação pelo saxofone” escolhe a estranheza e logo o poema a saltar no branco da página
“na invenção de possibilidades domésticas/em passeio pelas cataratas”
Este poema, e uso o singular porque para mim é um só texto de múltiplas imagens, levou-me a viajar
Também até à
oficina de poesia (somos todos derivativos) e a nomes como Bernstein, Deleuze, Duncan
Oficina de poesia que irrepetível e perturbadora como qualquer viagem e processo criativo, foi assim uma espécie de “City of no illusions” como Buffalo.
Obrigada Graça por este livro e pela oficina de poesia.
Teresa Fonseca