Olhos de Vidro é uma compilação de poemas que ao longo de vários anos fui escrevendo e que mantive timidamente guardados numa gaveta.

Receava revelá-los ao mundo, temendo o que poderia ser dessa parte de mim quando confrontada com os outros seres vivos e as suas próprias interpretações e subjectividades.

Que poderá o mundo fazer às minhas ideias se estas são a forma do seu avesso?

Sou igualmente músico. Dedico-me essencialmente a projectos de índole alternativa e faço-o, como tudo, por amor, paixão e espírito de missão.

Mas com a música tudo é diferente: exteriorizo-a complacentemente, não temo soltá-la ao vento de forma livre e impulsiva para que se espalhe, contagie os outros e os faça amar.

Não receio que os moldes da sua linguagem se misturem e se fundam com o imprevisível mundo dos Homens porque a minha música move-se numa base de implícita firmeza e a força do seu próprio universo não permite que se perverta, se transforme nos fantasmas dos outros ou se perca irremediavelmente para lá das fronteiras do desconhecido.

Mas o que escrevo não é assim.

A minha poesia é frágil, íntima, menina… Amo-a como a vida.

A minha poesia é a minha coerência, a minha intimidade moral, o tranquilizante da minha consciência, a concretização física e palpável do meu próprio Deus, o triunfo dos meus ideais.

Por tudo isto, é com sobrenatural coragem que resolvi libertar essa outra parte da minha alma.

Olhos de Vidro é o rosto dessa coragem, encadernada, seleccionada e ordenada onde se revela parte dessetrabalho que fui escrevendo, desde os tempos de adolescente até à actualidade.

A minha poesia é a minha vida, por favor, tratem-na bem…